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Uma carta à emoção

Nos olhos da verdade, o único rastro confiável é a emoção. Palavras vão sendo colocadas conforme as circunstâncias, gestos vão sendo produzidos a partir das demandas do espaço e dos estímulos que vamos captando pelos sentidos. Mas a emoção, essa é manifestação bruta do que não vemos. É uma colocação quase animalesca no tempo, que nos atravessa sem pedir licença e que vai orientando tudo o que vivemos e a forma como a tudo reagimos.

De uns tempos pra cá, tenho percebido que qualquer tentativa de superação ou qualquer prática direcionada a concretizar ou criar algo depende necessariamente da emoção investida. Nosso corpo carrega memórias ancestrais e, a todo o momento, estamos absorvendo novas informações do mundo e a ele transmitindo um pouco da gente. Esse movimento é ininterrupto e, quando não estamos atentos, somos fisgados por um amontoado indiscernível de fatores externos a nós, capazes de se misturarem com nossas demandas e receios. É perigoso desatentar aos sinais que emanamos.

Em tempos de expectativas elevadas, pode ser violento investir toda a energia em fórmulas prontas, tão pautadas em crenças limitantes, para alcançar nossos objetivos. Quando estamos desconectados da gente, toda racionalização escorre pelos dedos. Qualquer tentativa de engrenar algo vai perdendo força, pois o que move as coisas de verdade é o que sentimos por elas, é a magia que envolve sua existência ou seu estado anterior de ideia. Na prática, tudo o que podemos imaginar já é, então é uma questão de identificar qual é a emoção que está por trás dos nossos planos. Nesse sentido, o esforço em demasia, embora tão valorizado numa sociedade que escraviza a si mesma, é um sintoma de esgotamento grave, pois vai tirando o foco do valor genuíno das coisas, expresso pela emoção que sentimos ao vivê-las, e vai dando lugar a uma corrida desenfreada e sem propósito. No final, ninguém sabe para onde vai nem consegue apontar o sentido de ir.

Arrisco dizer que, ao dedicarmos mais tempo a olhar para nossas emoções, estabeleceremos uma conexão mais profunda com nós mesmos, aprendendo a compreender melhor os próprios processos. Dessa forma, o caminho parece ser o de considerar o que o corpo transmite por meio de sinais aparentes, mas também por meio de lembretes sutis, de intuições encobertas. Atentar-se às emoções, pois.

Thiane Ávila

Escritora

Thiane Ávila

Escritora

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