Eu e você já tivemos súbitos de palavras, de sensações, de tormentos. Já vivemos momentos de angústia, de alegria quase absoluta e de coragem de enfrentar tudo e todos em prol do que acreditamos. Também já tivemos vontade de desistir, de se recolher em um casulo cujas portas, uma vez trancadas, não pudessem mais ser abertas. Chaves jogadas fora. A verdade é que todos somos mais parecidos do que imaginamos.
Nesse ímpeto de olhar com profundidade para as semelhanças, nos assustamos. A banalidade de certas ocasiões quase nos faz acreditar que certas dores são meros exageros. Mas é aí que nos enganamos.
Hoje resolvi escrever para te lembrar que a palavra tem poder e que ela, uma vez dita, pode ser veneno e remédio. Jogada ao vento, vai ficando disponível como um significante apto a ser agarrado pelos passantes, que não darão satisfação sobre o seu uso. O inevitável é que ela atravessa a existência da gente e a registra. É a beleza da troca expondo seus abismos e fortalezas.
De um jeito único, vamos sendo tomados pelas ofertas ambientais e pelas predisposições que nossa história vai deixando em nossos corpos. Às vezes, olho para trás como quem busca os rastros e as pistas, esquecendo que, a rigor, não há passo mais orientador do que aquele que sentimos imediatamente abaixo de nossos pés, consolidando a vida que pulsa no exato instante que, tão logo se verifica, não mais existe.
Ao entender a dinâmica dos súbitos e seus intervalos, acredito que seja possível darmos ao peito alguma amostra de autonomia, mesmo que submersos em um mundo que naturaliza o estado crônico de problemas criados pela própria cultura. Uma vez escancarados à remota chance de mudança coletiva imediata, que saibamos olhar para o correr dos dias tendo em vista as prioridades que nos encaminham em direção ao que faz sentido. Em resumo, essas são palavras jogadas ao vento, com intenção de serem agarradas para serem embebidas de todo o tipo de pensamento e leitura. Que tuas demandas caibam nos espaços vazios deixados pelas frases, tão sedentos pela eclosão do que teu peito tem deixado silenciado.